sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A importância da monitorização e dosagem da Carboxiemoglobina

               No Brasil, cada vez mais os profissionais da área da saúde vêm se conscientizando da importância de implantar programas de monitorização biológica que os auxiliem na tomada de decisões relativas à prevenção de efeitos nocivos decorrentes da exposição às substâncias químicas.
          Uma das medidas mais eficazes de se prevenir a ocorrência de intoxicações ocupacionais é a monitorização biológica. Para possibilitar a interpretação dos resultados da análise dos diversos indicadores biológicos (IB), usados na monitorização, constam da norma regulamentadora do Brasil, os valores máximos permitidos (Índice Biológico Máximo Permitido-IBMP), abaixo dos quais se supõe que a maioria dos trabalhadores não apresentem efeitos nocivos, e também valores de referência destes parâmetros.
          Os valores de referência (VR) são quesitos indispensáveis à monitorização biológica, pois o nível dos indicadores biológicos nos indivíduos expostos deve ser comparado com o nível deste mesmo indicador em uma população cuja característica principal é a de não estar exposta ocupacionalmente ou por uma situação ambiental especial aos xenobióticos avaliados.
          Tais valores devem ser determinados em cada país e/ou região, pois vários são os fatores que afetam o bioindicador, tais como o tipo de alimentação, o local de moradia e de trabalho, os hábitos próprios do indivíduo, a poluição ambiental, entre outros4. Infelizmente, pela não disponibilidade de valores da população brasileira, a maioria dos VR foram compilados da literatura internacional .
          O  Monóxido de Carbono (CO) é um gás incolor, inodoro e insípido, muito difusível, resultante da combustão incompleta da matéria orgânica, ou seja, de qualquer material que contenha carbono, madeira, gás doméstico, gasolina, cigarros, fornos e fogões das cozinhas, esquentadores, lareiras, caldeiras de funcionamento a gás, geradores, churrasqueiras, grelhadores, motores de barcos, etc. A concentração média de monóxido de carbono (CO) na atmosfera é de 0,1 ppm, sendo 90 por cento do monóxido de carbono atmosférico produzido pela própria natureza e 10 por cento produzidos pela atividade do homem..Quando inalamos o monóxido de carbono este liga-se à Hemoglobina (proteína que transporta o Oxigênio no sangue) com uma força 230 a 270 vezes mais forte do que a do Oxigênio. Haverá no sangue uma “competição” entre CO e O2 pelas moléculas de hemoglobina. Isto faz com que a Hemoglobina passe a transportar CO em vez de O2.
Hb + CO à HbCO
          Este gás é rapidamente absorvido ao nível de alvéolo pulmonar, tem alto poder de difusão plasmática e avidamente se fixa à hemoglobina (Hb). A conseqüente formação da COHb altera o transporte de O2. Além da competição existe o fato dos íons Fe2+ ligarem-se mais fortemente ao CO do que ao O2­. Com isso, as moléculas de hemoglobina que reagem com CO, dificilmente tornam-se livres, perdendo assim sua função transportadora de oxigênio. Quantyo maior a concentração de CO no ar inspirado, maior a quantidade de hemoglobina desativada e, como conseqüência, mais graves os danos causados à saúde.
          Se a concentração de Carboxihemoglobina (a ligação do CO à hemoglobina) for superior a 50% pode ser fatal.

          Vários são os métodos propostos para a determinação da COHb. Dentre eles, os spectrofotométricos têm sido os mais utilizados pelo seu baixo custo, rapidez e simplicidade. Beutler e West5 (1984) publicaram método espectrofotométrico tendo por base a absorção diferencial da COHb e da hemoglobina reduzida, obtida por tratamento da amostra com ditionito de sódio, havendo necessidade de serem estabelecidos previamente os fatores de calibração do espectrofotômetro usado.

Doses tóxicas
          O limite de tolerância do monóxido de carbono é de 40ppm. Todavia, segundo
alguns autores, uma concentração de monóxido de carbono no ambiente da cerca de
10ppm pode determinar efeitos tóxicos após uma hora de exposição e a concentração de
40ppm pode ser fatal neste mesmo intervalo de tempo.
Considerando um indivíduo adulto, com uma ventilação pulmonar normal, num
ambiente de pressão atmosférica normal de 760 mm de Hg e um tempo de exposição
suficiente para que se tenha o equilíbrio, os teores de carboxiemoglobina no sangue,
com seus significados, em função do monóxido de carbono no ar inalado, são indicados
na tabela 1.

O limite de tolerância biológico para o monóxido de carbono pode ser avaliado
pela determinação de carboxiemoglobina (HbCO) que, para indivíduos não fumantes,
não deve ultrapassar o valor de 5%.
Os níveis sanguíneos de carboxiemoglobina (HbCO) no organismo humano são:
· Para indivíduos não fumantes- 0,64 + 0,28%
· Para indivíduos fumantes- 4,96 + 2,80%

Intoxicação:

1.     Intoxicação aguda- a absorção do monóxido de carbono e os sintomas resultantes
dependem da concentração do mesmo no ar expirado, do tempo de exposição no
ambiente contaminado e da atividade do indivíduo exposto, ou melhor, do ritmo
respiratório. A intoxicação aguda apresenta três períodos distintos:
· O primeiro caracteriza-se principalmente por transtornos nervosos, manifestados por
dor de cabeça, vertigens, zumbidos e importância muscular. Se a absorção do
monóxido de carbono continua, há a paralisação dos membros inferiores que se
propaga pelo corpo todo.
· O segundo período caracteriza-se pelo estado de coma, a respiração reduz-se ao
mínimo diminuindo consequentemente a quantidade de monóxido de carbono
absorvida; porém se os auxílios tardam a chegar haverá uma intoxicação lenta que
conduz o indivíduo ao estado de coma profundo e morre. O estado de coma e sua rapidez de
instalação depende da proporção de monóxido de carbono no ambiente. Este estado
pode durar vários dias e, em geral, um estado de coma com mais de 36 horas é
considerado de prognóstico fatal. Aparecem neste período: bradicardia, arritmia,
convulsões em alguns casos, vômitos e diarréia.
· O terceiro período corresponde ao período de recuperação, o indivíduo recobra gradualmente a consciência e pode apresentar perturbações diversas, sendo as principais: estados confusionais, amnésia, transtornos da sensibilidade cutânea, nevralgia do ciático e trigêmio e perturbações pulmonares (edema agudo).

2- Intoxicação crônica- a intoxicação crônica, no sentido de acúmulo de monóxido de carbono no organismo, não existe. A exposição constante ao monóxido de carbono não resulta em maior susceptibilidade do indivíduo ao monóxido de carbono a ser em casos de lesões cerebrais. No entanto, a anoxia repetida pela absorção de monóxido de carbono pode produzir:
a- anemia, ocasionada por uma ação lenta e progressiva do monóxido de carbono sobre
os glóbulos vermelhos;
b- cefalgias intensas que se atenuam durante a permanência ao ar livre;
c- mudança de caráter, que se constitui um sintoma peculiar do oxicarbonismo crônico.
Os transtornos psíquicos são caracterizados por irritabilidade e emotividade
exagerada, por melancolia e por manifestações histéricas.
A morte produzida pelo oxicarbonismo agudo, em suas formas puras, não se
apresenta como tal; não há a cianose característica dos asfixiados e as mucosas e lábios
estão ligeiramente rosados, devido a carboxiemoglobina que tinge de vermelho escarlate
os tecidos. A vermelhidão é ainda mais notada nos órgãos internos, músculos e pulmões
(edema carminado de Lacasagne). O sangue é fluido e rutilante, principalmente após a
morte.
1.5- Tratamento das intoxicações
a- retirar a vítima do local de exposição;
b- se a respiração estiver deprimida, aplicar respiração artificial com o oxigênio a
100% até recuperação das condições normais.
. Caso não se produza acidose metabólica é aconselhável o uso de carbógeno (95% de oxigênio e 5% de CO2) para restaurar as condições respiratórias;
c- Transfusão- onde se obtém uma substituição das hemáceas comprometidas com o monóxido de carbono;
d- Sangrias largas seguidas de equivalente reposição sanguinea.

          São inúmeras as complicações respiratórias, cardíacas, neurológicas e manifestações mentais  decorrentes da intoxicação pelo monóxido de carbono, sendo portanto tão importante a monitorizaçãoe manutenção dos níveis aceitáveis para melhor qualidade de vida da população.

Referências

- Siqueira, M. E. P. B. et al. Valores de referência para carboxiemoglobina Rev. Saúde Pública 31 (6), 1997
-  Monóxido de Carbono.Doseamento de CO e de MetHb no sangue. 
Disponível em: http://vivaciencia.planetaclix.pt/T4.pdf
- Unidade 2 – Gases tóxicos
Disponívem em: www.higieneocupacional.com.br/download/gases-toxicos.pdf

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