sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nitratos e Nitritos: Utilização e Limitações

Os nitritos e nitratos são compostos nitrogenados e estão presentes na natureza com abundância. São encontrados no solo, na água e nos vegetais, sendo portanto distribuídos em alimentos de origem animal e vegetal. São também usados como aditivos alimentares, nas formas de sais de sódio e potássio em conserva, produtos cárneos e queijos. Como aditivos alimentares, são de grande importância, pois atuam como inibidores do crescimento do Clostridium botulinum, que são extremamente tóxicos ao organismo humano. Outra função muito importante desses sais usados na industrialização de alimentos são de conferir cor e sabor às carnes, e peixes curados. (BORSATO et al., 1989).
Os níveis de nitrato e nitrito em alimentos são regulamentados pela ANVISA. Nitrito de sódio e nitrato de sódio possuem limites máximos para uso de 0,015 e 0,03g/100g respectivamente, sendo que a quantidade residual máxima é expressa como nitrito de sódio. A mescla de aditividos com igual função pode ser utilizada, desde que a soma de todos os limites não seja superior ao limite máximo de cada um deles (BRASIL , 1998).
Os principais riscos associados a ingestão de alimentos de origem vegetal contaminados com altas concentrações de nitrato e nitrito são a produção de metemoglobinemia. O nitrito entrando na corrente sanguínea oxida o ferro (Fe2+ → Fe3+) da hemoglobina, produzindo metemoglobina.
            NO2+ oxiHb(Fe2+) → metHb(Fe3+) + NO3
Esta forma de hemoglobina é inativa e incapaz de transportar o O2 para a respiração normal das células dos tecidos pulmonares, causando a metemoglobina, e as células acabam sofrendo anóxia. (FAQUIN, 2004)
Faquin cita, que alguns estudos foram feitos por outros pesquisadores e apresentam resultados de estudos epidemiológicos contraditórios. Alguns trabalhos dizem que existe uma relação entre a ingestão de nitrato e câncer gastrointestinal, e outros relatam que não há nenhum risco. E outros ainda afirmam que o consumo de vegetais com alto teor de nitrato reduzem a possibilidade de ocorrência de câncer gástrico em grupos de pessoas vegetarianas e não vegetarianas. Os vegetarianos ingerem cerca de 135 a 185 mg de nitrito por pessoa por dia e os não vegetarianos, de duas a três vezes menos, em torno de 61 mg por dia. Mas, o numero de morte por câncer gástrico é menos no grupo de vegetarianos em cerca de 20 a 40%. Lembram também que os vegetais e frutos são fontes de ácido ascórbico, que é um agente redutor da formação de nitrosaminas.

Muitos estudos são realizados com o intuito de obter resultados sobre a concetração de nitratos e nitritos presentes, e apartir dele é possível concluir que há uma grande variação nos teores de nitrato e nitrito em todas amostras analisadas para cada teste realizado. Atingindo desde valore aceitáveis à valores proibidos, ou seja, acima do limite máximo permitido (OLIVEIRA, et. al.,2005 / BORSATO, et. al.,1989)
Portanto, a ingestão de nitratos em condições de altas concentrações no alimento ou baixas concentrações e alta freqüência na exposição humana, pode tornar-se um risco de intoxicações, o que ainda é considerado de responsabilidade do produtor que precisa se adequar a um sistema de produção que baseie na segurança. E à vigilância sanitária cabem as orientações ao produtor sobre os procedimentos para eliminar, reduzir ou prevenir riscos à saúde. (OLIVEIRA, et al., 2005)






Leitura Adicional:
  • Oliveira,M.J.;  Araújo, W.M.C.; Borgo, L.A.; Quantificação de nitrato e nitrito em linguiças do tipo frescal. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 25 (4): 737-742, out.-dez.2005.
  • Faquin, V; Andrade, A.T. Nutrição mineral e diagnose do estudo nutricional de hortaliças. Lavras:UFLA/FAEPE, 2004.88 p.
  • Borsato, D.; Gardes, B.J.L.; Kawakoe, M.A.F.; Teores de nitratos e nitritos em conservas de carne comercializadas em Londrina (PR).; Semina, 10(4):235-238, 1989.
  • BRASIL. Secretaria de vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Portaria nº 1004, de 11 de dezembro de 1998, republicada no diário oficial da união de 22 de março de 1999. Aprova Regulamento Técnico: “Atribuição de função de aditivos, aditivos e seus limites máximos de uso para a categoria 8 – carne e produtos cárneos”. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/alimentos.





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Toxicologia forense: uso e importância da Cadeia de Custódia.

Em toxicologia forense, as análises são usadas na detecção e identificação de agentes tóxicos para fins médico-legais. As atividades da toxicologia forense têm sido importantes para a sociedade, que tem efetuado enormes esforços no sentido de iniciar e implantar os procedimentos analíticos de uma forma credível em termos forenses, como auxílio na tomada de decisões sobre a relação causa/efeito entre um determinado composto e um efeito adverso observado (COSTA, 2008).
O toxicologista forense tem sempre que escolher, entre as varias técnicas analíticas disponíveis, aquela que é mais conveniente numa determinada análise toxicológica. Esta escolha deve ser embasada em critérios técnicos como a aplicabilidade, sensibilidade, seletividade, precisão e exatidão da técnica, além da disponibilidade e do custo da análise. (COSTA, 2008).
Na análise forense todos os procedimentos relacionados à evidência, desde a coleta, o manuseio e análise, sem os devidos cuidados e sem a observação de condições mínimas de segurança, podem acarretar na falta de integridade da prova, provocando danos irrecuperáveis no material coletado, comprometendo a idoneidade do processo e prejudicando a sua rastreabilidade (LOPES et. al., 2006).
Um elemento importante em qualquer investigação de tipo forense é a manutenção da "cadeia de custódia”. A cadeia de custódia é usada para manter e documentar a história cronológica da evidência, para rastrear a posse e o manuseio da amostra a partir do preparo do recipiente coletor, da coleta, do transporte, do recebimento, do armazenamento e da análise, portanto, refere-se ao tempo em curso no qual a amostra está sendo manuseada e inclui todas as pessoas que a manuseia. Esta terminologia vem sendo legalmente utilizada para garantir a identidade e integridade da amostra, em todas as etapas do processo.
A documentação requerida para os vestígios questionados colhidos em local de crime ou para as evidências conhecidas (padrão), geralmente colhidas no interior dos laboratórios forenses, deve incluir anotações permanentes sobre (NASCIMENTO, & SANTOS):
• Data e hora da coleta
• Nome da pessoa(s) que coletou (aram) a evidência
• Listagem descritiva do item ou itens coletados
• Identifi cação única para cada item coletado
• Localização de cada item (documentação escrita, croqui, 
medições, fotografi as ou uma combinação delas).
A preservação da cadeia de custódia não está restrita as fases do inquérito policial. O magistrado, e demais serventuários, também tem a obrigação de manter o rigor no  controle da cadeia de custódia. Estes,  devem adotar os mesmos procedimentos  acerca da embalagem, do lacre, do transporte e do acondicionamento quanto estiverem tramitando as evidências na instituição judiciária (NASCIMENTO, & SANTOS).


Na área de toxicologia forense, todas as amostras são recebidas como evidências, as quais serão analisadas e o seu resultado, apresentado na forma de laudo que será utilizado no processo judicial. Estas devem ser manuseadas de forma cautelosa, para evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em questão. Nesta situação, a cadeia de custódia permite ao perito garantir e provar a integridade do processo ao qual a amostra foi submetida.
Nesta área, as amostras são, na maioria das vezes, únicas e a perda das mesmas significa um prejuízo, na medida que pode inviabilizar ou prejudicar a análise toxicológica. Assim, a cadeia de custódia viabiliza o controle sobre o trâmite da amostra com a identificação nominal das pessoas envolvidas em todas as fases do processo, caracterizando as suas responsabilidades, as quais são reconhecidas institucionalmente.
Portanto, uma cadeia de custódia segura, juntamente com o conjunto das técnicas analíticas utilizadas pelo perito para a realização do exame devido em uma evidência constituída em elemento de prova é que conduzirá à  produção de um laudo pericial defensável, logo, em  prova apreciável ou de cotejo para o esclarecimento de uma verdade no âmbito judicial penal (NASCIMENTO, & SANTOS).

Leituras adicionais: 
COSTA, L. J. Eletroforese capilar como ferramenta analítica para toxicologia forense. 2008. Tese (Doutorado) - Instituto de Química da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
NASCIMENTO, L. J. M., SANTOS, M. V. F. D. L. CADEIA DE CUSTÓDIA. Laboratório Central de Polícia Técnica. Disponível em: < http://www.dpt.ba.gov.br/arquivos/downloads/provamaterial/prova%20material%206.pdf > acesso em novembro de 2011.
LOPES, M., GABRIEL, M. M., BARETA, G. M. S. Cadeia de custódia: uma abordagem preliminar. Visão Acadêmica, Vol. 7, No 1 (2006)

domingo, 27 de novembro de 2011

Solvente industrial aumenta risco de Parkinson, diz estudo.

Um estudo internacional concluiu que pessoas expostas ao solvente industrial tricloroetileno (TRI) no ambiente de trabalho têm um risco seis vezes maior de apresentar mal de Parkinson.

TRI pode ser tóxico a longo prazo
          Diversos usos da substância química foram proibidos ao redor do mundo, devido a preocupações sobre sua toxicidade, mas o TRI ainda é utilizado como agente desengordurante.
          Os pesquisadores de institutos dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Argentina analisaram dados de 99 pares de gêmeos selecionados a partir de registros americanos, em que um dos irmãos tinha mal de Parkinson e o outro não. Estudos anteriores indicam que a doença é causada por uma mistura de fatores genéticos e ambientais. Alguns dos sintomas são tremores e dificuldades de movimento e de fala.

Gêmeos

        A pesquisa queria analisar os efeitos de da exposição a seis tipos de solvente, incluindo o TRI. A decisão de estudar gêmeos foi tomada porque eles são semelhantes geneticamente e muitas vezes tem estilos de vida parecidos, o que reduz a ocorrência de resultados artificiais.
          Os gêmeos foram entrevistados para que se chegasse a um histórico de sua vida profissional e para que sua exposição a solventes fosse estimada. Eles também responderam perguntas sobre hobbies e passatempos. Os resultados estão sendo apresentados como o primeiro estudo a fazer "uma associação significativa" entre a exposição ao TRI e o mal de Parkinson.
       Os solventes percloroetileno e tetracloreto de carbono também "indicaram risco significativo de desenvolver a doença". Os outros três solventes analisados, tolueno, xilol e n-hexano, não apresentaram relação estatística com a presença de mal de Parkinson.

Tratamento

      "Nosso estudo confirma que agentes contaminantes comuns podem aumentar o risco de desenvolvimento de mal de Parkinson, o que tem implicações consideráveis em termos de saúde pública", disse Samuel Goldman, do Instituto de Parkinson em Sunnyvale, Califórnia, que co-liderou a pesquisa publicada pelo Annals of Neurology.
      "Nossas descobertas, assim como relatos de casos anteriores, sugerem que pode haver uma diferença de até 40 anos entre a exposição ao TRI e o aparecimento do mal de Parkinson, o que cria uma janela de oportunidade fundamental para que se controle o desenvolvimento da doença antes de os sintomas clínicos surgirem."
     Michelle Gardner, gerente de desenvolvimento de pesquisa da instituição Parkinson's UK disse esse é o primeiro estudo que relaciona o TRI à doença, mas frisou que "muitos dos usos anteriores do solvente foram descontinuados por razões de segurança mais de 30 anos atrás e que os sistemas de proteção em locais de trabalho em que substâncias químicas fortes como este solvente são usadas melhoraram muito nos últimos anos".

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Congresso Brasileiro de Toxicologia Clínica

Oportunidade:




O evento proporcionará a apresentação de trabalhos e de temas relevantes relacionados às atividades dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica, sendo um importante espaço na divulgação da produção científica nas áreas de Toxicologia Clínica e Analítica no Brasil.

O programa será abrangente, com convidados nacionais e internacionais, apresentado sob a forma de 4 cursos pré-congresso; 5 conferências; 15 mesas redondas; um painel; uma sessão de discussão de casos práticos em toxicologia clínica; uma sessão de apresentação de temas selecionados para apresentação oral, concorrendo ao prêmio de melhor trabalho do Congresso; e apresentação dos pôsteres aprovados pela Comissão Científica, que ficarão expostos durante todo o evento.

Datas importantes:




 Para mais informações acesse o site: http://www.toxicologiaclinica2012.fcm.unicamp.br/

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Análise Toxicologica Sistemática: Monitoramento terapêutico de antidepressivos tricíclicos.

Análise Toxicologica Sistemática é definida pela busca químico-analítica lógica por uma substância de interesse toxicológico cuja presença não é suspeitada e cuja identidade é desconhecida.É fundamental associar achados analíticos de metodologias com baixa correlação pois é possível identificar um grande número de compostos com a mesmas metodologias. Idealmente todas as substâncias toxicologicamente relevantes devem ser isoladas, detectadas e identificadas, a despeito de sua estrutura e/ou polaridade. Seguindo três etapas:
Etapa 1: isolamento e concentração
– Hidrólise e remoção de interferentes
– Extração líquido-líquido
– Extração em fase sólida
Etapa 2: diferenciação-detecção
– Imunoensaios
– Cromatografia (CCD, CG, HPLC) com detecção
por FID, NPD, UV, MS, etc…
 Etapa 3: identificação
– Comparação com bases de dados
Amostras clínicas
·        Sangue (mais comum)
·        Cabelo (Avaliação de exposição prévia, Casos de “DFSA”)
·        Fluido oral (Saliva) (Casos de condução sob efeito de drogas
·        Urina (Análises qualitativas)
De ante desse contexto o artigo de LINDEN 2006, que descreve a Análise toxicológica sistemática e fenotipagem de CYP2C19: contribuição ao monitoramento terapêutico da amitriptilina é um bom exemplo da aplicação da análise toxicológica sistemática.
Segundo LINDEN 2006, o monitoramento terapêutico, compreendido como a determinação de concentrações plasmáticas de fármacos e a aplicação destas determinações à individualização da farmacoterapia, é uma abordagem útil quando da utilização de amitriptilina, considerando que faixas de concentração terapêutica e tóxicas estão propostas.
Entretanto, a obtenção de níveis plasmáticos terapêuticos é fortemente impactada pela variabilidade fenotípica do metabolismo. Considerando que uma parcela significativa dos pacientes não relatam o uso corrente de medicamentos e fitoterápicos aos médicos assistentes, procedimentos de análise toxicológica sistemática podem ser úteis para avaliar a co-administração de fármacos. O pesquisador desenvolveu um sistema informatizado para cálculo de parâmetros cromatográficos e busca em bases de dados previamente publicadas, disponível na rede mundial de computadores.
Este sistema permite a identificação de substâncias de interesse toxicológico com elevada probabilidade, mesmo com a utilização de métodos analíticos simples e de baixo custo. Também foi desenvolvida e validada uma metodologia para determinação simultânea de omeprazol, 5-hidróxi-omeprazol e omeprazol sulfona em plasma por HPLC-DAD, permitindo a avaliação do fenótipo metabolizador para CYP2C19 e CYP3A4 em um grupo de 38 voluntários saudáveis.
Foram identificados 5 voluntários com diferentes fenótipos metabolizadores para CYP2C19 (1 ultra-rápido, 3 extensivos e 1 pobre) receberam uma dose oral de 1mg.kg-1 de amitriptilina e forneceram amostras de sangue nos tempos 0, 1, 2, 3, 4, 5, 7, 24 e 48 horas pós-dose. Foram observadas diferenças nos parâmetros farmacocinéticos e nas razões metabólicas de hidroxilação entre os diferentes fenótipos para CYP2C19.
Desta forma, o cálculo do índice metabólico de desmetilação a partir das concentrações de amitriptilina e nortriptilina, determinadas em uma amostra coletada 3 horas após uma dose única ou após a primeira dose oral de amitriptilina, pôde ser utilizado para determinar o fenótipo metabolizador para CYP2C19, permitindo um ajuste precoce da posologia.

Leia mais:
LINDEN, R. Análise toxicológica sistemática e fenotipagem de CYP2C19: contribuição ao monitoramento terapêutico da amitriptilina. 2006.141 f. Tese (Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biociências, Rio Grande do Sul. 2006.

Referências:
LINDEN, R. Análise toxicológica sistemática e fenotipagem de CYP2C19: contribuição ao monitoramento terapêutico da amitriptilina. 2006.141 f. Tese (Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biociências, Rio Grande do Sul. 2006.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ANÁLISE DE FÁRMACOS EM MATERIAL BIOLÓGICO POR ACOPLAMENTO MICROEXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA E HPLC "NO TUBO"


            A determinação de fármacos em amostras biológicas coletadas principalmente no plasma de pacientes, tem por base o contexto clínico e o farmacocinético. Cada vez mais esse procedimento tem sido realizado na área clínica, a fim de assegurar a eficácia terapêutica e minimizar os efeitos adversos, os quais são prejudiciais à qualidade de vida do paciente e refletem na sua adesão à farmacoterapia prescrita. 

           No que se refere aos métodos de análises mais utilizados na rotina do tratamento (extração, pré-concentração e purificação) de amostras biológicas, a extração líquido-líquido (LPE) e a extração em fase sólida (SPE) são bastante empregadas, com o objetivo de eliminar interferente e aumentar a sensibilidade e seletividade analítica. No entanto, tais métodos possuem muitas desvantagens no que se refere, por exemplo, o grande gasto de solventes, tempo para execução, perda de analito, dentre outras limitações. 

           A microextração em fase sólida (SPME), desenvolvida por Pawliszyn et al. (1990), apresenta uma série de vantagens em relação ao métodos convencionais de extração por não requerer uma instrumentação analitica sofisticada e longos tempo de execução, além de permitir automação das análises, concentração dos analitos e reutilização das fibras extratoras.  A técnica de SPME tem sido realizada por cromatografia gasosa (SPME-GC) e empregada com êxito na extração de fármacos voláteis e semivoláteis em análises de amostras biológicas (Tabela 1), principalmente quando extraídas da fase gasosa, no modo "headspace", onde não ocorre interação das proteínas da amostra biológica com a fibra. Já os fármacos menos voláteis ou termicamente instáveis têm sido analisados após processos de derivatização/SPME-GC ou empregando a técnica SPME acoplada à cromatografia líquida de alta eficiência (SPME-HPLC). 

LQ: Limite de quantificação, TCA: ácido tricloroacético; PICI-MS: espectrometria de massas dom ionização química; SIM: seleção do íon monitorado; PDMS: polidimetilsiloxano; PA: poliacrilato; PDMS-DVB: polidimetilsiloxano divinilbenzeno; CW-DVB: carbowax divinilbenzendo; NPD: detector de nitrogênio e fósforo; TSD: detector termiônico específico e FID: detector de ionização de chama (Adaptação: Queiroz, M. E & Lanças, F. M, 2005). 

     













     Figura 1. Interface do SPME-HPLC


         

           O acoplamento com SPME-HPLC requer uma interface apropriada (Figura 1), em forma de um T, onde a fibra é inserida na extremidade superior e as demais extremidades, lateral e inferior, são conectadas à válvula de seis pórticos do HPLC. A dessorção dos analitos poderá ser realizada de modo dinâmico, com a fase móvel, ou, no modo estático, quando os analitos forem fortemente sorvidos na fibra.  


      Um novo sitema SPME-HPLC, denomiando SPME "no tubo" foi recentemente desenvolvido para microextração e pré-concentração de fármacos menos voláteis e/ou termicamente instáveis. Utiliza um tubo capilar aberto de sílica fundida (dispositivo SPME), com a superfície interna revestida com a fase estacionária (quimicamente ligada), o qual tem sido acoplado em linha com o sistema HPLC. O sistema SPME-HPLC "no tubo" pode ser montado fixando-se uma coluna capilar entre a alça de amostragem e a agulha do injetor automático do HPLC (Figura 2). 
Figura 2. Técnica SPME-HPLC "no tubo". 

A vantagem da técnica SPME-HPLC "no tubo" é que ela não requer uma interface específica para dessorção dos analitos, como a utilizada em SPME-HPLC convencional, permitindo, assim, a automação dos métodos cromatográfico, resultando em maior precisão e menor tempo de análise, quando comparado às técnicas manuais utilizadas em análises de rotina de fármacos em material biológico. Como as amostras biológicas são injetadas no sistema praticamente em seu estado fisiológico, diminui a exposição dos analistas a estas amostras, além de minimizar perdas do analito durante o processo de extração. 
     As principais vantagens da técnica SPME-HPLC "no tubo" quando comparadas à SPE acoplada em linha com HPLC, têm sido simplicidade, rapidez, extração em micro escala, alta sensibilidade analítica, pequeno volume de amostra, baixo custo, reutilização do capilar extrator, fácil automação e reduzido volume de solvente orgânico. Tem sido aplicada com êxito na análise de compostos hidrofóbicos e hidrofílicos presentes em amostras biológicas, podendo ser facilmente acoplada a vários métodos analíticos, principalmente os em micro escala.  


Leia mais sobre: QUEIROZ, S. C. N; COLLINS, C. H; JARDIM, I. C. S. F. Métodos de extração e/ou concentração de compostos encontrados em fluidos biológicos para posterior determinação cromatográfica. Quím. Nova, v. 24, n. 1, 2001. p. 68-76. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/qn/v24n1/4452.pdf

REFERÊNCIAS: 

QUEIROZ, M.E; LANÇAS, F. M. Análise de fármacos em material biológico: acoplamento microextração em fase sólida "no tubo" e cromatografia líquida de alta eficiência. Quím. Nova, v. 28, n. 5, 2005. p. 880-886. 






         


 









         

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pesquisa de fármacos em material biológico

          As intoxicações por medicamentos são causas freqüentes de procura de atendimento médico em serviços de urgência e emergência no Brasil, sendo muitos dos casos relacionados às tentativas de suicídio ou envolvendo crianças e idosos que se expuseram a doses acima da terapêutica, resultando em concentrações tóxicas na corrente sangüínea.
         No Brasil, os acidentes envolvendo medicamentos alcançam o primeiro lugar como agente causal de intoxicações. Este fato, aumenta o desafio dos laboratórios de análises toxicológicas a desenvolverem metodologias analíticas para pesquisa e identificação de fármacos envolvidos nos casos de intoxicação aguda.
         As dosagens de substâncias podem ser feitas no sangue, urina ou lavado gástrico. A investigação de fármacos é provavelmente a mais freqüente dos
testes toxicológicos e, dependendo do fármaco e das suas características fármaco-toxicológicas e do tempo decorrido da exposição, pode ser detectado na forma inalterada ou biotransformada em sangue ou na urina.

         A sistemática da análise toxicológica de urgência geralmente envolve um agente desconhecido, tornando-se um grande desafio identificar essa substância química, devido ao grande número de substâncias potenciais e a disponibilidade de quantidades limitadas na amostra. Os laboratórios mais sofisticados empregam metodologias como cromatografia gasosa (CG), cromatografia de massa (MS) e cromatografia liquida de alta eficiência (HPLC). Já os laboratórios de médio e pequeno porte, geralmente dispõem de um espectrofotômetro, cuja utilização é relativamente simples, podendo determinar pequenas quantidades de toxicante através de comparação dos espectros de ultravioleta de substâncias de referência.
    A pesquisa toxicológica de fármacos em material biológico, através da espectrofotometria, proporciona um teste simples e rápido para a identificação do agente causal em eventos de intoxicação aguda, podendo excluir ou sugerir a presença de determinada substância.
     Os métodos espectrofotométricos, na região do ultravioleta, no intervalo de 220 a 320nm, são indicados tanto para o reconhecimento quanto para a confirmação de compostos orgânicos extraídos de material biológico. Entretanto, sua utilização exige, antes de sua aplicação, uma padronização prévia do comportamento das substâncias de interesse.
      Uma das maiores vantagens da baixa seletividade da espectroscopia UV é que compostos da mesma classe frequentemente apresentam o mesmo padrão de absorção; assim, substâncias não identificadas podem ser relacionadas a uma determinada classe com base em suas características espectrais.
     Um estudo realizado por Américo et al., (2008) desenvolveu um procedimento simples para análise de rotina na triagem de fármacos, usando a espectrofotometria UV nos casos de suspeita de intoxicações. Forneceram-se o perfil de 40 fármacos, classificados de acordo com o seu caráter (ácido, básico e neutro). Com essas análises foi possível identificar os picos de absorbância máxima nos respectivos comprimentos de onda na faixa de ultravioleta, bem como o limite de detecção de cada fármaco.


Referência: Américo, M. A.; Mossin, S. A. G.; Nishiyama, P. Perfil de fármacos por espectrofotometria no ultravioleta. Revista Brasileira de Análises Clínicas, vol. 40(4): 257-259, 2008.

Leia mais: Validação de metodologia analítica e estudo de estabilidade para quantifcação sérica de paracetamol. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v46n2/a12v46n2.pdf

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pesquisa de metais em material biológico

     Segundo o dicionário de Ecologia e Ciências Ambientais (1998), metais pesados são aqueles metais com número atômicos de médio e altos, como o cobre, o cádmio, a prata, o arsênio, o cromo e o mercúrio, é que são tóxicos em concentrações relativamente baixas. Persistem no ambiente e podem se acumular em níveis que interrompem o crescimento das plantas e interferem na vida animal.

     Eles constituem a maior fonte poluidora inorgânica de solos e águas, sendo introduzidos no ambiente, principalmente através de fertilizantes, pesticidas, combustão de carvão e óleo, emissões veiculares, mineração, fundição, refinamento e incineração de resíduos urbanos e industriais (Tavares & Carvalho, 1992).

     Os metais formam um importante grupo de substâncias tóxicas que apresentam muitas dificuldades quanto à sua análise química sistemática. Nos países desenvolvidos o maior número de casos conhecidos de intoxicação por estes agentes deve-se a intoxicação crônica, resultante da exposição ambiental ou ocupacional (Moffat et al., 2004).

   
     No campo da medicina ocupacional, a pesquisa de metais pesados destaca-se a monitorização biológica indivíduos expostos a metais, auxiliando na prevenção e no acompanhamento de doenças. Além disso, no diagnóstico de intoxicações agudas ou crônicas, no controle de amostras ambientais como (água, solo, ar) e no controle da qualidade de alimentos a pesquisa de metais também é extremamente importante.

     A análise de metais pesados nos diversos materiais deve obedecer a um critério de planejamento em relação à coleta. A quantidade de material a ser amostrada e quantificada deve ser definida de forma a evitar perdas ou contaminações. Isto é feito em relação aos elementos que se quer determinar, a faixa de concentração esperada, o tipo de matriz e o método a ser utilizado na quantificação.

     O método clássico para a destruição da matéria orgânica dissolvida é a mineralização por via úmida, que emprega o aquecimento da amostra e adição de reagentes como ácidos oxidantes ou misturas destes ou, ainda, peróxido de hidrogênio (H2O2). Porém, estes métodos apresentam a desvantagem de oferecer um alto risco de contaminação da amostra, principalmente no caso de amostras que contêm metais no nível de traço,4 além de requererem um grande consumo de reagente e um longo tempo de mineralização. Sendo assim, uma alternativa à mineralização ácida é a mineralização empregando irradiação ultravioleta (UV) que, além de ser eficiente, minimiza a possibilidade de contaminação da amostra devido ao uso de pequenas quantidades de ácidos e peróxido de hidrogênio (Carvalho et al., 2008).

     A espectrofotometria de absorção atômica  (EAA ou AAS -  Atomic absorption spectrometry) é uma técnica bem estabelecida na análise elementar ao nível vestigial de diferentes tipos de matrizes. Trata-se da técnica mais vulgarmente usada na determinação de metais e metalóides (Moffat et al, 2004). O princípio básico dessa técnica é a geração de átomos livres a partir de energia térmica, os átomos gerados recebem luz de um comprimento de onda específico para sua absorção. A extensão da absorção de radiação é diretamente proporcional ao número de átomos, ou concentração, do elemento presente na amostra.

Leia mais sobre...

Detecção da presença de metais pesados em estruturas biológicas como solo, plantas e cabelos humanos: Duarte, R. G. S.; Pasqual, A. Avaliação do cádmio (Cd), chumbo (Pb), níquel (Ni) e zinco (Zn) em solos, plantas e cabelos humanos. Energia na Agricultura, Botucatu, v.15, n.1, p.46-58, 2000.  

- Poluição ambiental por metais pesados: http://www.vivaterra.org.br/vivaterra_metais_pesados.htm 


Referências:

Carvalho, L. M. [et al] Determinação voltamétrica de metais em águas e fluidos biológicos empregando mineralização de amostras com radiação ultravioleta. Quím. Nova vol.31 no.6 São Paulo, 2008.

Tavares, T. M.; Carvalho, F. M. Avaliação da exposição de populações humanas a metais pesados no ambiente: exemplos do Recôncavo Bahiano. Quim Nova 15: 147-153., 1992.

Moffat AC, Osselton MD, Widdop B, Galichet LY (eds.). Clarke’s analysis of drug and
poisons in pharmaceuticals, body fluids and postmorten material. 3rd edition. London – Chicago: Pharmaceutical Press (PhP), 2004.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Organofosforados e Carbamatos

A utilização dos agrotóxicos no Brasil do ponto de vista ambiental e principalmente de saúde pública tem determinado um forte impacto, infelizmente negativo, com contaminação dos vários meios (ar, água e solo ), e com muitos casos de doenças e mortes.
As primeiras informações sobre problemas de saúde datam de 1950, quando foram constatados na região de Presidente Prudente, pelo Instituto Biológico da Secretaria Estadual de Agricultura, casos de doenças em 118 agricultores de algodão, com 21 mortes por um produto chamado Paratiom (inseticida organofosforado) (Planet, 1950; Rodrigues et al., 1957; Almeida, 1959; Almeida, 1960; Almeida, 1967). Nas décadas de 70 e 80, Estados como Paraná e Rio Grande do Sul passam a identificar problemas ambientais e de saúde causados pelos agrotóxicos indicando a utilização cada vez maior desses produtos nas principais regiões de produção agrícola do país (Siqueira, 1983; Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, 1983). Com a implantação, a partir dos anos 80s, dos Centros de Controle de Intoxicações em vários Estados brasileiros, as notificações dos agravos causados pelos agrotóxicos passou a ser mais sistematizada, constituindo-se um Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) que consolida os dados gerados nos diversos Estados do país, e é coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz do Ministério da Saúde, que publica anualmente as estatísticas de casos de intoxicação registrados pelos Centros (FIOCRUZ/CICT, 2000). Pela análise dos dados atuais do SINITOX pode-se concluir que os agravos causados pelos agrotóxicos determinam um problema não só de saúde dos agricultores, mas um sério problema de saúde pública (Aguilar Alonzo, 2000). Esta conclusão se dá analisando-se somente os casos notificados pelos
Centros, que são apenas aqueles considerados de intoxicação aguda, que ocorrem subitamente e muitas vezes de desfecho dramático. Não entram na análise os casos de efeitos adversos de longo prazo que são hoje em dia os que mais preocupam os profissionais que atuam na área de saúde ambiental e toxicologia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 1990 (WHO,1990), que deveriam ocorrer no mundo, anualmente, cerca de 3.000.000 de casos de intoxicação aguda, mais de 700.000 casos de efeitos adversos crônicos, como distúrbios neurológicos, cerca de 75.000 casos de câncer por exposição e
220.000 mortes.



Os inseticidas organofosforados e carbamatos são atualmente os proutos mais usados na agricultura para uma diversidade de culturas, nas infestações em residências e em animais e no controle de vetores, como pesticidas e praguicidas. Estes agentes agem inibindo a ação da enzima acetilcolinesterase, fundamental para o bom funcionamento do Sistema Nervoso Central dos humanos e outros animais. Atualmente, são utilizados com outras finalidades como tentativas de suicídio, sendo também agentes comuns em intoxicações acidentais e profissionais, respondendo por um número significativo de intoxicações agudas.

De acordo com a CoViSa - Coordenadoria de Vigilância em Saúde de Campinas, o perfil de intoxicação e os sinais e sintomas mais frequentes foram listados a seguir:











Já a tabela a seguir mostra os casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico e zona de ocorrência, indicando ser maior a ocorrência na zona urbana que na rural, inclusive para os agrotóxicos de uso agrícola.


                                                     (SINTOX, 1999)

A disseminação de pragas, como insetos voadores (pernilongos e moscas) e rasteiros (baratas), animais peçonhentos, como escorpiões e aranhas, associada à epidemia da dengue transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, tem trazido um incremento no consumo desses produtos nas moradias urbanas, trazendo como conseqüência um aumento dos casos de intoxicação na zona urbana. Além disso, como não há controle do comércio de produtos para uso em quintais, hortas e pomares domésticos e as substâncias ativas são as mesmas daquelas usadas na agropecuária, o risco de intoxicações fica exacerbado.


Reportagem divugada em 2008 pelo Jornal Diário Catarinense:


Família não aceita morte da criança intoxicada por inseticida em Santa Catarina

Médico diz que órgãos da menina, que teve morte encefálica, resistirão no máximo uma semana





"Ela foi intoxicada pelo inseticida Diazitop, de uso veterinário e agropecuário, aplicado em seu cabelo pela mãe, na tentativa de matar piolhos."



Adriele foi intoxicada pelo inseticida Diazi
Foto:Ulisses Job / Reprodução

Reportagem completa em: 


Veja mais:



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA

Os medicamentos possuem os mais diversos mecanismos de ação. Um grande número dos utilizados por via oral ou injetável são metabolizados (ou biotransformados) no fígado, excretados através dos rins, atuando em outros tecidos como medula óssea, sistema nervoso central, ouvido, podendo ser analisados através de exames de sangue ou urina. A simples observação dos níveis de proteínas plasmáticas de um indivíduo já proporciona informação quanto à absorção de determinados medicamentos. Rotineiramente, as dosagens de enzimas hepáticas (transaminases, gama glutamil transferase, fosfatase alcalina, etc.), de resíduos metabólicos (uréia, creatinina, ácido úrico), de eletrólitos (sódio, potássio, cloro, magnésio, cálcio, fósforo), do perfil hematológico e/ou imunológico são necessários para monitorar a terapêutica de forma indireta.
Quanto à dose, deve-se verificar que a concentração terapêutica ideal é aquela em que se obtém o máximo do benefício com o menor efeito indesejável possível, que é denominada de janela terapêutica. Numerosos fármacos, como por exemplo lítio, carbamazepina, digoxina, fenitoína, gentamicina, lidocaína e ciclosporina, têm estes níveis muito próximos e, desta forma, seu acompanhamento terapêutico deve ser rigoroso. Analisando a biodisponibilidade, estaremos monitorando a terapêutica de forma direta. Quanto maior o intervalo, mais segura a sua utilização. "Todas as substâncias são venenos, não existe nenhuma que não seja. A dose correta diferencia o veneno do remédio" (Paracelsus - 1493 / 1541).
O farmacêutico utiliza tecnologia avançada, como espectrometria de massa, cromatografia gasosa, cromatografia de alta performance (HPLC), radioimunoensaio, enzimaimu-noensaio e outros mais simples, como a colorimetria, a fotocolorimetria e a espectrofotometria para a análise destes fármacos . Várias são as situações observadas na monitorização terapêutica: o insucesso terapêutico de determinado medicamento, quando usado dentro das doses e intervalos recomendados; o ajuste na dosagem após determinado tempo de uso, a terapêutica com drogas anticoagulantes (Heparina e Cumarínicos) que requer uma verificação do tempo e atividade de protrombina para avaliar sua eficácia e ajustar a dose. A prevenção e tratamento de intoxicações, realizadas em pacientes usuários de lítio, carbamazepina, ácido valpróico, digoxina, etc; prevenção de efeitos colaterais ao acumulo de medicamentos, observado em usuários de Ciclosporina, gentamicina; ensaios clínicos para o estudo de novos medicamentos.
A monitorização terapêutica tem como meta informar ao clínico a faixa ideal de concentração plasmática do fármaco, com metodologia confiável e reproduzível, para que seu uso seja mais seguro e científico, participando o Farmacêutico como importante componente da equipe de saúde. Os critérios de inclusão e exclusão do protocolo clínico de cada doença são avaliados pela Ficha Farmaco-terapêutica, que registra o acompanhamento do paciente por um ano e onde constam seus dados, avaliação farmacoterapêutica, monitorização do tratamento e registro da dispensação.
Em vários protocolos, consta da avaliação farmacoterapêutica o registro de exames laboratoriais. O papel do farmacêutico vai da realização dos exames até a decisão de dispensar ou não o medicamento, com base nos resultados encontrados que constam no fluxograma de dispensação. Podemos, assim, destacar alguns exemplos. A terapêutica pela Isotretinoína para o tratamento da acne, que requer avaliação do hemograma, transaminases e triglicerídeos na fase inicial do tratamento e depois a cada trimestre. A teratogenicidade deste medicamento indica para paciente do sexo feminino a dosagem da fração beta do hormônio corio-gonadotrófico (teste de gravidez). No tratamento de pacientes anêmicos, portadores de insuficiência renal crônica, o uso da Eritropoietina Humana Recombinante requer uma precisa avaliação dos parâmetros hematológicos e dos níveis de ferro e proteínas de conjugação do ferro que deve ser realizada mensalmente. Outros medicamentos, como o hidróxido de ferro III, têm idêntica avaliação.  
No tratamento farmacológico das dislipidemias, o uso de Estatinas ou Vastatinas, Fibratos e Ácido Nicotínico são acompanhados pelas dosagens de Colesterol total, suas frações HDL, LDL e VLDL e Triglicerídeos para avaliação da terapêutica, das Transaminases, CPK e TSH para verificar possíveis efeitos sistêmicos indesejáveis. A hepatite viral crônica B tratada com o Interferon alfa e a Lamivudina têm como critério de inclusão as provas sorológicas HbsAg, HbeAg e da carga viral do HBV, além das dosagens bioquímicas das transaminases. A dose de Lamivudina a ser administrada é estabelecida através da depuração de creatinina endógena que avalia a função renal . Os critérios de exclusão do tratamento com Interferon alfa baseiam-se em parâmetros hematológicos com a contagem de plaquetas e de leucócitos. Caso apresentem diminuição, o tratamento deverá ter a dose reduzida ou ser interrompido.

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A importância da monitorização e dosagem da Carboxiemoglobina

               No Brasil, cada vez mais os profissionais da área da saúde vêm se conscientizando da importância de implantar programas de monitorização biológica que os auxiliem na tomada de decisões relativas à prevenção de efeitos nocivos decorrentes da exposição às substâncias químicas.
          Uma das medidas mais eficazes de se prevenir a ocorrência de intoxicações ocupacionais é a monitorização biológica. Para possibilitar a interpretação dos resultados da análise dos diversos indicadores biológicos (IB), usados na monitorização, constam da norma regulamentadora do Brasil, os valores máximos permitidos (Índice Biológico Máximo Permitido-IBMP), abaixo dos quais se supõe que a maioria dos trabalhadores não apresentem efeitos nocivos, e também valores de referência destes parâmetros.
          Os valores de referência (VR) são quesitos indispensáveis à monitorização biológica, pois o nível dos indicadores biológicos nos indivíduos expostos deve ser comparado com o nível deste mesmo indicador em uma população cuja característica principal é a de não estar exposta ocupacionalmente ou por uma situação ambiental especial aos xenobióticos avaliados.
          Tais valores devem ser determinados em cada país e/ou região, pois vários são os fatores que afetam o bioindicador, tais como o tipo de alimentação, o local de moradia e de trabalho, os hábitos próprios do indivíduo, a poluição ambiental, entre outros4. Infelizmente, pela não disponibilidade de valores da população brasileira, a maioria dos VR foram compilados da literatura internacional .
          O  Monóxido de Carbono (CO) é um gás incolor, inodoro e insípido, muito difusível, resultante da combustão incompleta da matéria orgânica, ou seja, de qualquer material que contenha carbono, madeira, gás doméstico, gasolina, cigarros, fornos e fogões das cozinhas, esquentadores, lareiras, caldeiras de funcionamento a gás, geradores, churrasqueiras, grelhadores, motores de barcos, etc. A concentração média de monóxido de carbono (CO) na atmosfera é de 0,1 ppm, sendo 90 por cento do monóxido de carbono atmosférico produzido pela própria natureza e 10 por cento produzidos pela atividade do homem..Quando inalamos o monóxido de carbono este liga-se à Hemoglobina (proteína que transporta o Oxigênio no sangue) com uma força 230 a 270 vezes mais forte do que a do Oxigênio. Haverá no sangue uma “competição” entre CO e O2 pelas moléculas de hemoglobina. Isto faz com que a Hemoglobina passe a transportar CO em vez de O2.
Hb + CO à HbCO
          Este gás é rapidamente absorvido ao nível de alvéolo pulmonar, tem alto poder de difusão plasmática e avidamente se fixa à hemoglobina (Hb). A conseqüente formação da COHb altera o transporte de O2. Além da competição existe o fato dos íons Fe2+ ligarem-se mais fortemente ao CO do que ao O2­. Com isso, as moléculas de hemoglobina que reagem com CO, dificilmente tornam-se livres, perdendo assim sua função transportadora de oxigênio. Quantyo maior a concentração de CO no ar inspirado, maior a quantidade de hemoglobina desativada e, como conseqüência, mais graves os danos causados à saúde.
          Se a concentração de Carboxihemoglobina (a ligação do CO à hemoglobina) for superior a 50% pode ser fatal.

          Vários são os métodos propostos para a determinação da COHb. Dentre eles, os spectrofotométricos têm sido os mais utilizados pelo seu baixo custo, rapidez e simplicidade. Beutler e West5 (1984) publicaram método espectrofotométrico tendo por base a absorção diferencial da COHb e da hemoglobina reduzida, obtida por tratamento da amostra com ditionito de sódio, havendo necessidade de serem estabelecidos previamente os fatores de calibração do espectrofotômetro usado.

Doses tóxicas
          O limite de tolerância do monóxido de carbono é de 40ppm. Todavia, segundo
alguns autores, uma concentração de monóxido de carbono no ambiente da cerca de
10ppm pode determinar efeitos tóxicos após uma hora de exposição e a concentração de
40ppm pode ser fatal neste mesmo intervalo de tempo.
Considerando um indivíduo adulto, com uma ventilação pulmonar normal, num
ambiente de pressão atmosférica normal de 760 mm de Hg e um tempo de exposição
suficiente para que se tenha o equilíbrio, os teores de carboxiemoglobina no sangue,
com seus significados, em função do monóxido de carbono no ar inalado, são indicados
na tabela 1.

O limite de tolerância biológico para o monóxido de carbono pode ser avaliado
pela determinação de carboxiemoglobina (HbCO) que, para indivíduos não fumantes,
não deve ultrapassar o valor de 5%.
Os níveis sanguíneos de carboxiemoglobina (HbCO) no organismo humano são:
· Para indivíduos não fumantes- 0,64 + 0,28%
· Para indivíduos fumantes- 4,96 + 2,80%

Intoxicação:

1.     Intoxicação aguda- a absorção do monóxido de carbono e os sintomas resultantes
dependem da concentração do mesmo no ar expirado, do tempo de exposição no
ambiente contaminado e da atividade do indivíduo exposto, ou melhor, do ritmo
respiratório. A intoxicação aguda apresenta três períodos distintos:
· O primeiro caracteriza-se principalmente por transtornos nervosos, manifestados por
dor de cabeça, vertigens, zumbidos e importância muscular. Se a absorção do
monóxido de carbono continua, há a paralisação dos membros inferiores que se
propaga pelo corpo todo.
· O segundo período caracteriza-se pelo estado de coma, a respiração reduz-se ao
mínimo diminuindo consequentemente a quantidade de monóxido de carbono
absorvida; porém se os auxílios tardam a chegar haverá uma intoxicação lenta que
conduz o indivíduo ao estado de coma profundo e morre. O estado de coma e sua rapidez de
instalação depende da proporção de monóxido de carbono no ambiente. Este estado
pode durar vários dias e, em geral, um estado de coma com mais de 36 horas é
considerado de prognóstico fatal. Aparecem neste período: bradicardia, arritmia,
convulsões em alguns casos, vômitos e diarréia.
· O terceiro período corresponde ao período de recuperação, o indivíduo recobra gradualmente a consciência e pode apresentar perturbações diversas, sendo as principais: estados confusionais, amnésia, transtornos da sensibilidade cutânea, nevralgia do ciático e trigêmio e perturbações pulmonares (edema agudo).

2- Intoxicação crônica- a intoxicação crônica, no sentido de acúmulo de monóxido de carbono no organismo, não existe. A exposição constante ao monóxido de carbono não resulta em maior susceptibilidade do indivíduo ao monóxido de carbono a ser em casos de lesões cerebrais. No entanto, a anoxia repetida pela absorção de monóxido de carbono pode produzir:
a- anemia, ocasionada por uma ação lenta e progressiva do monóxido de carbono sobre
os glóbulos vermelhos;
b- cefalgias intensas que se atenuam durante a permanência ao ar livre;
c- mudança de caráter, que se constitui um sintoma peculiar do oxicarbonismo crônico.
Os transtornos psíquicos são caracterizados por irritabilidade e emotividade
exagerada, por melancolia e por manifestações histéricas.
A morte produzida pelo oxicarbonismo agudo, em suas formas puras, não se
apresenta como tal; não há a cianose característica dos asfixiados e as mucosas e lábios
estão ligeiramente rosados, devido a carboxiemoglobina que tinge de vermelho escarlate
os tecidos. A vermelhidão é ainda mais notada nos órgãos internos, músculos e pulmões
(edema carminado de Lacasagne). O sangue é fluido e rutilante, principalmente após a
morte.
1.5- Tratamento das intoxicações
a- retirar a vítima do local de exposição;
b- se a respiração estiver deprimida, aplicar respiração artificial com o oxigênio a
100% até recuperação das condições normais.
. Caso não se produza acidose metabólica é aconselhável o uso de carbógeno (95% de oxigênio e 5% de CO2) para restaurar as condições respiratórias;
c- Transfusão- onde se obtém uma substituição das hemáceas comprometidas com o monóxido de carbono;
d- Sangrias largas seguidas de equivalente reposição sanguinea.

          São inúmeras as complicações respiratórias, cardíacas, neurológicas e manifestações mentais  decorrentes da intoxicação pelo monóxido de carbono, sendo portanto tão importante a monitorizaçãoe manutenção dos níveis aceitáveis para melhor qualidade de vida da população.

Referências

- Siqueira, M. E. P. B. et al. Valores de referência para carboxiemoglobina Rev. Saúde Pública 31 (6), 1997
-  Monóxido de Carbono.Doseamento de CO e de MetHb no sangue. 
Disponível em: http://vivaciencia.planetaclix.pt/T4.pdf
- Unidade 2 – Gases tóxicos
Disponívem em: www.higieneocupacional.com.br/download/gases-toxicos.pdf